Religião: Narrativa e Separatismo no Âmago Humano

A história da humanidade está marcada por guerras santas, cruzadas, perseguições, genocídios e imposições dogmáticas, tudo em nome de deuses que, paradoxalmente, pregam o amor. Toda violência, então, passa a ser justificada como justiça divina.

Descritor;

6/24/20252 min read

a stone wall with a statue on it
a stone wall with a statue on it

A espécie humana, ao longo de sua história, revelou uma tendência notável: a busca por explicações que transcendam a realidade física. Diante do mistério da existência e do silêncio da morte, a mente recorre à sua ferramenta mais poderosa — a criatividade. Onde faltam respostas, surgem narrativas. E, dessas, nascem as religiões.

Cada religião é uma tentativa de dar forma ao invisível. São construções simbólicas baseadas na observação da natureza, no legado de civilizações antigas, em manuscritos, lendas e mitos que remontam aos primeiros de nós que domesticaram o solo. Todas, sem exceção, se apresentam como “o caminho verdadeiro”. No entanto, entre os milhares de cultos erguidos ao longo da história, não há consenso sobre qual deles — se algum — carrega uma verdade absoluta sobre o que nos espera além desta experiência.

Mas essa ausência de certeza não diminui o impacto das crenças. Pelo contrário: o reforça.

Religiões transformam humanos em deuses e estabelecem a ideia de que o tempo vivido aqui é uma preparação para outra existência. Nessa lógica, cada ação é medida, cada escolha se torna um testemunho. E, ao final, há uma promessa: “descansar no Paraíso”.

Contudo, essa promessa raramente é universal. Ela costuma se destinar apenas àqueles que compartilham da mesma fé. Os demais — descrentes ou seguidores de outras verdades — estão condenados. Não por seus atos, mas por não crerem na narrativa dominante de um grupo. Assim, essas histórias se tornam alicerces do separatismo humano.

A história da humanidade está marcada por guerras santas, cruzadas, perseguições, genocídios e imposições dogmáticas, tudo em nome de deuses que, paradoxalmente, pregam o amor. Toda violência, então, passa a ser justificada como justiça divina.

O desejo de impor a própria fé, de destruir o que é diferente, de subjugar o outro, não é uma anomalia: é um traço da espécie. A destruição acontece por meio de ideias — doutrinas e convicções de que determinado grupo detém a única verdade.

Curiosamente, entre todas as espécies com as quais dividimos o planeta, nenhuma outra manifesta adoração ao sagrado. Talvez por limitações comunicativas, pela ausência de abstrações complexas como as nossas, ou porque — em última instância — a religiosidade seja uma invenção humana. Uma tentativa desesperada de dar sentido ao desconhecido, criando regras aqui para garantir que o pós-vida seja melhor do que essa parte da jornada. E, assim, dominar o medo da morte.

Não é a fé, em si, que corrompe. Mas a fé que separa, que julga, que condena. Enquanto acreditarmos que a verdade nos pertence por herança religiosa, cultural ou espiritual — e que todos os outros estão errados — o conflito será inevitável. Mesmo que disfarçado de devoção